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Nefrite Lúpica

Autor:
Tejwinder Sandhu
Touro University - California, US
Tradução por: Sara Barreto, MD

Esta informação é fornecida apenas para fins educacionais e informativos, e não constitui a prestação de conselhos médicos ou serviços profissionais.

O que são os Rins e quais são as suas funções?

Os rins são dois órgãos com a forma de feijão e têm um papel muito importante no corpo humano.


Cada rim tem milhares de pequenos filtros, chamados glomérulos. À medida que o sangue atravessa estes filtros, os glóbulos vermelhos, proteínas e açucares são retidos no sangue, enquanto o excesso de água e os resíduos indesejados são removidos através da urina.


Os rins são também responsáveis por manter a nossa pressão arterial, estimular a produção de glóbulos vermelhos, e também ativar a vitamina D, para manter os ossos saudáveis.

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O que é a Nefrite Lúpica?

A Nefrite Lúpica é uma doença renal que ocorre em consequência do Lupus Eritmatoso Sistémico (LES), uma doença autoimune. 


Na Nefrite Lúpica, o nosso sistema imune ataca o tecido renal, causando inflamação e lesão. Isto pode levar ao aparecimento de proteinúria (eliminação excessiva de proteínas na urina), hematúria (presença de sangue na urina), aumento da pressão arterial e edema (inchaço) das pernas e pés. Se não for tratada, a Nefrite Lúpica pode evoluir para doença renal crónica terminal com necessidade de diálise ou transplante renal.

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Quem está em risco de desenvolver Nefrite Lúpica?

Pessoas que tenham Lúpus Eritmatoso Sistémico (LES) apresentam algum risco de desenvolver Nefrite Lúpica. O LES é uma doença que se encontra mais frequentemente nas mulheres do que nos homens e habitualmente surge em idade reprodutiva. A Nefrite Lúpica pode apresentar-se em qualquer idade, no entanto, o seu diagnóstico é mais comum em pessoas entre os 20 e os 40 anos de idade. Outros fatores que podem aumentar o risco de desenvolver Nefrite Lúpica incluem:

 

  • Genética – Alguns fatores genéticos podem aumentar a suscetibilidade de desenvolver LES e Nefrite Lúpica em algumas pessoas.

  • Etnia – A Nefrite Lúpica é mais comum em pessoas com ascendência Africana, Hispânica e Asiática do que naquelas de origem Europeia. Nos Estados Unidos, 1 em cada 250 mulheres Afro-Americanas irão apresentar Lúpus. Contudo, de entre os doentes com LES, o risco de desenvolver Nefrite Lúpica é significativamente superior nos homens, doentes mais jovens e de etnia hispânica.

  • Género – As mulheres têm maior probabilidade de desenvolver Lúpus do que os homens. 9 em cada 10 pessoas que têm esta doença são do sexo feminino. Como já mencionado anteriormente, dentre aqueles que têm o diagnóstico de Lúpus, a Nefrite Lúpica é mais comum nos homens.

  • Tabagismo – O tabaco pode aumentar o risco de desenvolver Lúpus e Nefrite Lúpica.

  • Historia Familiar – Pessoas com familiares que tenham sido diagnosticadas com Lúpus ou Nefrite Lúpica parecem ter maior risco de desenvolver esta doença.

Quais são os sinais e sintomas da Nefrite Lúpica?

A Nefrite Lúpica resulta da lesão e inflamação dos rins, o que pode causar uma variedade de sinais e sintomas. Alguns daqueles que são mais frequentes são:
 

  • Proteinúria, isto é, eliminação excessiva de proteínas através da urina. Tal situação pode traduzir-se na presença de urina espumosa. 

  • Hematúria, ou seja, presença de sangue na urina. Esta alteração pode ser visível – levando a uma aparência rosada ou avermelhada da urina – ou não ser detetável a olho nu, mas sim apenas na análise de urina.

  • Edema ou aquilo que habitualmente se identifica como inchaço. Os locais mais frequentemente afetados ou notados são as pernas, tornozelos e pés.

  • Elevação da pressão arterial ou hipertensão é uma complicação comum da Nefrite Lúpica.

  • Fadiga, traduzindo-se numa sensação de cansaço ou fraqueza constante.

  • Anorexia, o que significa diminuição ou ausência do apetite.

  • Ganho ponderal ou aumento de peso não justificável que pode resultar da retenção de líquidos.

  • Rash ou eritema, nomeadamente o aparecimento de uma mancha em forma de borboleta na face (ambas as bochechas são afetadas de forma simétrica) - um sinal comum de LES e que pode estar associado a Nefrite Lúpica.

  • Artralgias, ou seja, dor e rigidez das articulações também podem ser sintomas de LES.

Se apresenta algum destes sintomas, é importante que fale com o seu médico, que pode solicitar análises para avaliar a sua função renal e determinar se existe a possibilidade de ter Nefrite Lúpica. O seu diagnóstico precoce e tratamento pode evitar a evolução da lesão renal e melhorar o desfecho para os doentes.

Que testes irá o meu médico realizar para diagnosticar a Nefrite Lúpica?

O diagnóstico da Nefrite Lúpica resulta habitualmente de uma combinação entre os dados da história clínica, exame físico, análises de sangue e urina, e biópsia renal.

 

  • História Clínica: O seu médico irá fazer perguntas acerca da sua história médica, incluindo sintomas que tenha notado, se tem história familiar de doenças renais ou de natureza autoimune, e que medicamentos se encontra a tomar.

  • Exame físico: Esta avaliação realizada pelo médico tem como objetivo identificar eventuais sinais de lesão renal, lesões cutâneas ou eritema, edema ou alterações cardíacas.

  • Análises de sangue: Os testes sanguíneos são efetuados para verificar se existem sinais de inflamação, como níveis elevados de anticorpos específicos, e para avaliar o funcionamento dos rins, nomeadamente através da medição dos níveis de creatinina e da ureia. A creatinina é um produto residual decorrente da destruição normal dos músculos. Os rins são os órgãos responsáveis pela limpeza ou remoção da creatinina do corpo. Este parâmetro permite assim estimar a taxa de filtração glomerular, o que por sua vez traduz quão bem estão os rins a filtrar ou a funcionar.

  • Análises de urina: o exame à urina serve para detetar a presença de proteínas, sangue ou outras substâncias que possam indicar lesão renal.

  • Biópsia renal: Este procedimento consiste em retirar uma pequena amostra de tecido renal que é depois observado e analisado utilizando um microscópio para avaliar a presença de sinais de inflamação e de lesão.

Tratamento da Nefrite Lúpica

A Nefrite Lúpica pode ser tratada com uma combinação de medicamentos e alterações do estilo de vida. O objetivo do tratamento é controlar a inflamação, preservar a função renal impedindo as células imunes de atacar os rins, e prevenir complicações. Seguem-se alguns exemplos de tratamentos comuns para a Nefrite Lúpica:

 

  • Medicação imunossupressora – Este tipo de fármacos é essencial na supressão do sistema imune e na redução da inflamação renal. Neste grupo incluem-se os corticóides, o micofenolato de mofetil, a ciclofosfamida e azatioprina.

  • Anti-hipertensores – A Hipertensão Arterial é um sinal comum na presença de Nefrite Lúpica e pode perpetuar o dano que é feito no rim. Medicamentos que tratam esta condição e reduzem a perda de proteínas na urina podem não só controlar a tensão arterial como proteger os rins.

  • Alterações na dieta e estilo de vida – Deve ser adotada uma dieta pobre em sal e gorduras para melhor controlar a tensão arterial e ganho de peso. A manutenção de atividade física regular também pode ajudar na normalização da tensão arterial e manutenção de um estado de boa saúde global.

  • Diálise ou Transplante renal – Em casos graves de Nefrite Lúpica, pode ser necessária a realização de diálise ou de um transplante renal por forma a substituir a função dos rins.

 

É essencial trabalhar em conjunto com o seu médico para desenvolver um plano de tratamento personalizado e adaptado às suas necessidades específicas. Deve-se manter um seguimento regular, que inclui consultas, análises laboratoriais para vigiar a evolução da função renal e ajustar o tratamento. 


Com a gestão e tratamento adequados, muitas pessoas com o diagnóstico de Nefrite Lúpica podem manter o normal funcionamento dos rins e viver uma vida normal.
 

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Se eu apresentar Nefrite Lúpica irei desenvolver doença renal crónica?

O risco de desenvolver doença renal crónica em estadio terminal devido à Nefrite Lúpica é variável e depende da gravidade de doença e de como esta é abordada. Com o tratamento e vigilância apropriados, muitas pessoas com esta patologia podem preservar o bom funcionamento dos rins. Contudo, em alguns casos, a doença renal crónica pode ocorrer mesmo quando administrado um tratamento correto.


O risco de doença renal terminal é maior nos doentes com Nefrite Lúpica grave ou ativa, hipertensão arterial não controlada, presença de elevados níveis de proteínas na urina ou naqueles que já apresentam alterações da função renal na altura do diagnóstico. 


Nos Estados Unidos da América, os doentes com doença renal secundária ao LES representam 1,5% da população em diálise. Outros fatores que podem aumentar o risco de doença renal terminal são o atraso no diagnóstico e seu tratamento, cumprimento irregular da medicação prescrita e a presença concomitante de outras doenças que também afetam o rim. De entre os doentes submetidos a transplante renal nos Estados Unidos, 3% deles apresentavam doença renal resultante do LES.


Consultas regulares com o seu médico, bem como a realização de análises são necessárias para vigiar a função dos rins e ajustar o tratamento sempre que necessário. O diagnóstico precoce e tratamento atempado da Nefrite Lúpica podem ser determinantes na redução do risco de doença renal crónica e melhorar os resultados futuros.

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